Peter Blake, a vida do grande navegador morto no Brasil

Peter Blake, um grande navegador assassinado  no Amapá, em 2001

Ele foi um neozelandês que alçou seu nome à constelação das grandes estrelas mundiais da navegação. Peter Blake (Auckland, 1 de outubro de 1948 — Macapá, 5 de dezembro de 2001) foi um velejador oceânico, nobilitado pela rainha de Inglaterra como ‘Sir’. Entre outros, detém um dos mais bonitos troféus de competições à vela: venceu em 1989-1990 a Whitbread, regata de volta ao mundo, hoje conhecida como Volvo Ocean Race.

imagem do velejador Peter Blake
Sir Peter Blake (Foto: universomatambra.com)

Breve resumo da carreira de Peter Blake

Ele foi o único velejador a competir nas primeiras cinco provas da Whitbread . Em 1994 conquistou o troféu Júlio Verne e, em 1995, liderou a equipe da Nova Zelândia no seu primeiro triunfo histórico da  América’s Cup, o supra-sumo das provas à vela, voltando a ganhar a competição em 2000. Em 1996, passou a fazer parte do America’s Cup Hall of Fame.

Histórico na vela

Blake voltou para o desafio da America’s Cup em 1995, desta vez como o chefe do sindicato da equipe da Nova Zelândia. Com NZL 32, “Black Magic”, e batendo Dennis Conner por 5-0. NaAmerica’s Cup de 2000, a equipe da Nova Zelândia, ainda liderada por Blake, tornou-se a primeira equipe não americana a defender com sucesso a Copa América, batendo o veleiro Prada por 5-0. Após esta defesa, Sir Peter saiu do time.

Peter Blake, o ecologista

Em 1997, Blake tornou-se o chefe de expedições da Sociedade Cousteau e capitão do Antarctic Explorer, que mais tarde comprou da Sociedade e renomeou Seamaster.

imagem do veleiro Antartic Explorer
O Antartic Explorer (Foto: expeditionsail.com)

Depois de deixar a Sociedade, liderou expedições para a Antártica e a Amazônia a bordo de Seamaster durante 2001. No mesmo ano, Blake foi nomeado enviado especial para o Programa de Meio Ambiente da ONU. E começou a filmar documentários para Blakexpeditions, empresa que ele fundou.

Peter Blake no Amazonas

Blake estava em uma expedição de pesquisa – patrocinada pela Omega. Chegou no Rio de Janeiro no dia 12 de setembro de 2001. Depois navegou para o norte. Chegou a Belém, onde a Amazônia se encontra com o Oceano Atlântico, no dia 2 de outubro. A tripulação  planejava navegar a montante e chegar à Venezuela no início de fevereiro. Blake tinha a bordo  14 tripulantes, incluindo a filha Sarah Jane. Nove pessoas estavam no Seamaster quando o ataque aconteceu.

A tragédia em Macapá noticiada pelo The Guardian

“O rio, perto de Macapa, é bem conhecido por sua violência. Blake não foi avisado dos perigos de ancorar na região, disse um caboclo. E prosseguiu: a policia definitivamente sabe quem fez isso, mas eles só vão pegá-los se houver pressão internacional suficiente.”

O veleiro, já rebatizado como Seamaster, havia atracado no balneário de Fazendinha (a 15 km de Macapá), no rio Amazonas.

Enquanto estava em sua jornada amazônica, Blake manteve um registro em seu site. A última entrada foi escrita na quarta-feira, no dia em que ele morreu. “Status: ainda motorizado. Condições: agradável“, escreveu ele. “O crepúsculo transformou a superfície do rio em um cinza gorduroso, com o céu escurecendo rapidamente depois que tons de cor laranja e  ouro desapareceram. “Mais uma vez, eu levanto a questão: por que estamos aqui? Nosso objetivo é  entender os motivos pelos quais todos devemos apreciar o que temos antes que seja tarde demais. Queremos motivar as pessoas que cuidam do meio ambiente. Queremos fazer a diferença.”

Peter Blake “queria fazer a diferença”

No dia seguinte ao que escreveu em seu site, num roubo banal que acontece todos os dias na desprotegida costa brasileira, o astro mundial da vela reagiu a um assalto. E foi fuzilado pelos bandidos. A reação mundial foi intensa: “Peter Blake, the world’s leading sailor, shot dead in attack by Amazon pirates” foi a manchete do The Guardian. “Sir Peter Blake killed in Amazon pirate attack“, escreveu o  The New Zeland Herald.

16 anos depois o Brasil prende o assassino de Peter Blake

Como sempre pouco noticiado no Brasil, o assunto é manchete novamente em todos os jornais dos USA, à Europa, passando pela Ásia, e Oceania. O assassino de Peter Blake, morto em 2001, no Amapá, foi preso nesta quarta-feira (14/02/2018), em Breves, arquipélago do Marajó, Pará. José Irandir Cardoso foi condenado a 35 anos pelo homicídio. Ele estava foragido desde 2002.

E ainda por cima, prenderam-no por acaso…

Eita, país do herói sem caráter, eita! Quanta vergonha. Aconteceu assim: policiais do Grupo Tático Operacional (GTO) de Breves prenderam o assassino por acaso. Ele foi vitima de uma revista de rotina. Levado para a delegacia, constataram que se tratava do fugitivo da cadeia. Hoje está recolhido ao presídio de Breves, “à disposição da justiça.”

Justiça? Qual?

imagem do funeral de sir Peter Blake
O funeral

Os Kiwis reunidos em homenagem ao Mestre dos Mares.

imagem do funeral de sir peter blake

O Brasil demorou 16 anos para fazer justiça ao herói…

imagem do funeral de sir peter blake

Justiça?

Homenagem dos velejadores da Eldorado Brasilis

Se a Justiça brasileira deu cano outra vez, o mesmo não aconteceu com a sociedade náutica. Todos, sem exceção, lamentaram o terrível crime. Envergonhados, um grupo do qual este escriba fazia parte, decidiu homenageá-lo numa das regatas promovidas pela Rádio Eldorado, desta vez na ilha de Trindade. Como a prova era anual, tivemos que esperar um ano. Mas em 2002 a flotilha levou uma placa em nome de todos os velejadores brasileiros. Ela foi pregada a uma rocha da ilha pelo navegador Carlos Brancante que, naquele ano, acompanhou a prova em seu trawler Lord Gato.

imagem de placa em homenagem a sir peter blake na ilha de Trindade

Sir Peter Blake (1948 – 2001). O Maior velejador e ambientalista dos tempos modernos. Uma homenagem de todos os navegantes brasileiros, por parte da flotilha da regataEldorado- Brasilis, Janeiro, 2002“.

A guarnição da Marinha do Brasil, estacionada em Trindade, posa ao lado da rocha.

imagem de homenagem a sir Peter Blake na ilha de Trindade
Homenagem a Peter Blake em Trindade (Foto: Carlos Brancante)

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